«Tenho grandes expectativas sobre David Luiz» - Mano Menezes
O novo seleccionador do Brasil está aliciado pelo cargo e assegura, em entrevista a A BOLA, que em breve virá a Portugal para ver alguns dos brasileiros que por cá evoluem. Menezes esclarece ainda que, recentemente, ficou aberta uma porta para que, a prazo, possa ser treinador do FC Porto. Até 2014, porém, o objectivo é ser campeão do Mundo.
A BOLA - Considera que chegou ao topo com a chamada à selecção A do Brasil? É este o momento mais alto da carreira?
Mano Menezes - Certamente sim. Um técnico brasileiro pode chegar a uma grande equipa na Europa mas o grande sonho é dirigir a selecção do seu próprio país. Temos grandes treinadores no Brasil e ter sido convidado orgulha-me muito.
- Um dos seus grandes objectivos é voltar a pôr o Brasil a jogar futebol bonito?
- Pode e tem jogadores e talento para isso. Em determinado momento o Brasil se calhar não teve jogadores para isso, pois depende das gerações, mas desta vez temos e vamos montar a selecção para voltar ao futebol arte.
- Será uma revolução gradual?
- Nesta convocatória temos quatro jogadores que actuaram no Mundial, como é o caso do Ramires. E há outros que não estiveram na África do Sul mas estiveram na qualificação. Por isso, a reestruturação da selecção será relativamente lenta porque também serão necessárias vitórias para formar uma ideia de jogo e evitar a pressão inerentes aos resultados negativos.
- Nesta convocatória surgem os nomes da Ramires e David Luiz, do Benfica. O primeiro não é novidade, ao passo que o central é uma estreia. É uma aposta sua?
- Acompanho o futebol português com muito interesse. David Luiz é um central muito rápido que tem todas as condições para jogar na selecção brasileira. Mas quero vê-lo, tal como outros jogadores, confirmar na selecção o que faz no clube, no caso o Benfica. Só podemos ver e sentir isso se convocarmos esses jogadores que nunca actuaram pela selecção brasileira. É preciso ter um contacto mais próximo, não só pela questão futebolística mas também o carácter, a capacidade de suportar a pressão de vestir a camisola de uma das principais selecções do Mundo.
- David Luiz tem características que o diferenciam de outros centrais, nomeadamente a capacidade para sair a jogar, uma técnica acima da média para um jogador daquela posição. É destes centrais que mais aprecia?
- Os centrais, tal como os dois médios-centro, terão de ter maior capacidade de ver o jogo, rapidez, raciocínio, posicionamento e técnica, de modo a permitir que a equipa possa jogar com linhas mais subidas. Isso exige mais dos centrais.
- Ele está a ser muito cobiçado por vários clubes europeus de monta, mas em princípio ficará mais uma época no Benfica, por sua própria vontade. Acha que para o seu crescimento será melhor ficar mais uma época na Luz?
- Gosto muito dos jogadores que conseguem ter a visão de completar ciclos. David Luiz vai ter a oportunidade de completar um ciclo no Benfica ao estrear-se na Liga dos Campeões pelo Benfica. Isso marca a posição de um jogador num clube, ganha a admiração dos adeptos, cria uma identidade. É possível um jogador ser valorizado internacional e financeiramente permanecendo no seu clube. Porque se uma equipa consegue manter os seus jogadores durante mais tempo terá um futebol melhor e estará mais perto de ganhar. Espero que isso aconteça com David Luiz e o Benfica.
- Airton e Hulk têm hipóteses de virem a ser chamados?
- Conheço muito bem Airton porque o defrontei como treinador adversário, quer do Corinthians quer do Grémio. É um médio de contenção que no Brasil jogava num sistema de três defesas. Penso montar a selecção com uma linha de quatro defesas e por isso vou obedecer a determinadas características e prioridades. Quanto ao Hulk, falou-se muito da possibilidade de ser chamado para o Campeonato do Mundo de 2010. Vamos observar muitos jogadores, mas não gostaria muito de individualizar. Porque às vezes criam-se grandes expectativas que podem produzir um efeito contrário nos jogadores.
- Esteve perto de ir para o FC Porto no final da época passada?
- Não estive assim tão perto, mas tenho um agente [Carlos Leite] que me representa e na sequência de algumas conversas foi aberta uma possibilidade para o futuro. Não tratámos nada de objectivo no imediato mas ficou falado uma eventual ida para Portugal lá mais para diante. Mas na altura eu estava a disputar a Copa Libertadores, pelo Corinthians, e pensava que iria chegar até ao fim, cujas meias-finais e final disputam-se agora [final de Julho, a final é a 18 de Agosto]. Pensando eu que iria até ao fim da prova, só ficaria liberto em Agosto e nessa altura já os clubes na Europa têm as equipas técnicas definidas. Um dia, quem sabe, irei treinar em Portugal.
Leia mais na edição impressa de A BOLA do dia 1 de Agosto de 2010
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