Quinto metatarso, o osso do pé mais temido pelos jogadores de futebol
Atletas ingleses têm uma estranha propensão a fracturar este osso, uma lesão que é de difícil recuperação. Estudo procura perceber as causas e aponta para um mau uso das chuteiras.
O que têm em comum as novas chuteiras, para além de um reduzido peso que as ajuda a obter o máximo de aerodinâmica e a potenciar a velocidade dos atletas? Para além de serem algumas das botas mais populares dos futebolistas de elite, estes modelos podem contribuir para atirar os jogadores para a enfermaria. Esta é uma das hipóteses levantadas pela investigação em curso de Iain Spears, cientista desportivo da Universidade de Teeside, sobre os problemas inerentes às fracturas do quinto metatarso.
Este osso localiza-se na base do dedo mais pequeno do pé e liga o cubóide - osso na parte superior da planta do pé - às falanges - as extremidades do dedo. Concluída a definição anatómica, resta dizer que este quinto metatarso apresenta algumas condicionantes que o tornam num osso único.
Em primeiro lugar, "enquanto o segundo e terceiro metatarsos têm uma taxa de 80 a 90 por cento de circulação sanguínea, a base do quinto metatarso não recebe sangue suficiente e pode ser rompida ainda mais no processo de cura de uma fractura". A explicação é do professor Iain Spears, da Universidade de Teeside, Middlesbrough, que esclareceu ao PÚBLICO que "na base do quinto metatarso estão as inserções de dois músculos peroniais, que estabilizam o tornozelo e contribuem para a propulsão em andamento normal". Ora, quando há uma fractura deste osso, "a actividade destes músculos poderia tender para quebrar a superfície" da fractura. Essa situação é, segundo o cientista, "a pior condição possível para uma superfície fracturada acabada de sarar".
Perguntar-se-á o leitor onde é que as chuteiras encaixam neste cenário. Embora os resultados do estudo sejam ainda "preliminares", o uso incorrecto das chuteiras poderá levar o futebolista a tornar-se mais vulnerável a lesões no quinto metatarso. Spears explica: "O pé compreende muitos ossos e, quando acarretam muito peso [no caso, o peso do próprio corpo], eles movem-se e aproximam-se uns dos outros até um máximo de 15 graus [ver infografia]".
Chuteiras muito pequenas
Mas o que se tem vindo a tornar moda são as opções dos futebolistas por modelos de tamanho abaixo do ideal, de modo a obterem um melhor controlo da bola e percepção de toque. Ao mesmo tempo, a selecção de uma chuteira normalmente recai naquelas que são cada vez mais leves e não nas mais adaptáveis ao pé. Para além disso, os futebolistas mais conceituados recebem, normalmente, chuteiras novas a cada jogo - de forma a que o logo da marca esteja sempre visível e que o design da bota se mantenha intacto -, o que também contribui para a sua fraca adaptabilidade. Iain Spears defende que estes três factores combinados "podem restringir em demasia os movimentos ósseos, o que interfere com a biomecânica do pé".
A exposição de Iain Spears é sustentada por um estudo feito em parceria com cientistas da Universidade de Salford. Durante a investigação, foram construídos modelos da estrutura óssea do pé a contas com inflamações. Um dos pés é submetido a uma pressão lateral suplementar - numa simulação de uma hipotética situação em que o atleta usa chuteiras demasiado pequenas para o tamanho do pé. O resultado é simples: os ossos aproximam-se em demasia devido à pressão e a zona inflamada praticamente duplica, quer no quinto metatarso, quer no cubóide, em comparação com o outro modelo.
O estudo de Iain Spears tem como objectivo uma melhor percepção das causas que levam os processos de recuperação de fracturas no quinto metatarso a serem tão diferentes dos dos seus semelhantes, bem como uma optimização das técnicas de reparação cirúrgicas a uma fractura deste. No entanto, a investigação cinge-se àquilo que Spears retrata como a "calamidade do metatarso" entre os futebolistas ingleses. David Beckham, Gary Neville, Danny Murphy e Wayne Rooney foram alguns dos afectados, tal como Emile Heskey ou, mais recentemente, Michael Carrick.
Será que o futebol em Inglaterra, onde o número de jogos - contando com a Taça da Liga, Taça de Inglaterra, a sempre longa Premier League e as competições europeias - costuma ser superior ao de outros campeonatos, contribui para a vulnerabilidade de atletas britânicos? As lesões de alguns jogadores ocorrem normalmente no final de épocas longas, às vezes com mais de 50 jogos nas pernas.
Daí que seja recorrente os futebolistas sofrerem fracturas de stress. "O stress causa por vezes microfracturas dentro do osso. Menos stress devido a menos jogos ou menor actividade no campo poderia ajudar. Nessa perspectiva, é possível que os futebolistas ingleses estejam mais vulneráveis do que outros. No entanto, a Premiership tem muitos jogadores estrangeiros a treinar da mesma forma que os ingleses, mas em comparação com eles a incidência de lesões é muito baixa", argumenta o cientista desportivo.
Mais grave é quando a fractura é súbita - devido a um choque violento, por exemplo, ganhando, por norma, maiores dimensões. E, por conseguinte, mais tempo de paragem.
Design é secundário
O que deve procurar-se numas boas chuteiras?
Em 2005, já um outro especialista escrevia para a revista Medicine Matters um artigo intitulado Considerações na selecção de chuteiras, com o seguinte mote: "Function, not fashion". Ou seja, apesar de o design ser um dos factores mais apelativos na escolha do calçado dos futebolistas, a sua funcionalidade e adaptabilidade é que devem ser tidos em conta.
Mike Healy enumerou as qualidades que devem levar à escolha de uma chuteira: adaptabilidade ao tipo de pé (há pés chatos, arqueados ou neutros, todos eles de largura variável); bom controlo do movimento, estabilidade e suporte na zona do calcanhar; e capacidade de absorção do choque, uma vez que todo o peso do corpo em movimento e velocidade recai sobre esta estrutura. Falhas a estes níveis podem tornar os atletas mais propensos a lesões, principalmente na zona do tornozelo, que, através das inserções peroniais, está directamente ligado ao quinto metatarso. C.V.B.
Publico de 9 de Novembro de 08
http://jornal.publico.clix.pt/
1 comentário:
eu estou com esse mesmo problema , tava jogando bola e torci o pé , e acabou que quebrei o quinto metatarso .
vcs poderiam me informar quanto tempo tenho que ficar de gesso ?
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