Entrevista: David Luiz
'Rui Costa sabe lidar com o balneário'
Diz que está com fome de bola mas que só quer regressar aos relvados quando estiver recuperado “a cem por cento” da lesão no pé direito. O central brasileiro fala da ambição de Quique Flores, prevê que o Benfica regresse às conquistas na Liga portuguesa já esta época e elogia a passagem do ‘maestro’ para o cargo de director desportivo.
Correio Sport – Esta não foi, certamente, a época que mais desejou. Que balanço faz deste ano no Benfica?
David Luiz – Todos temos a perfeita consciência de que este ano não correu de acordo com o que pretendíamos. Queríamos conquistar o título, vencer a Taça de Portugal e voltar a marcar presença na Liga dos Campões, mas as coisas não aconteceram assim. É o futebol. Vamos tirar a cabeça deste passado negativo e construir o futuro com os aspectos positivos do último ano.
– Consegue encontrar aspectos positivos depois de uma temporada tão conturbada?
– Claro que sim. Sabemos que os resultados não aconteceram mas, por muito que existam dúvidas quanto a isso, sempre tivemos um excelente balneário e um grande apoio por parte da direcção. Vamos encarar o futuro com uma atitude positiva e encarar a próxima época de cabeça bem erguida.
– O que falhou no Benfica? Foram só os resultados?
– Creio que passa sobretudo por aí. Os resultados condicionaram a época. Lutámos todos os dias mas as vitórias não iam aparecendo e isso mexeu com a equipa, desmoralizou-nos em certos momentos. Ainda assim procurámos sempre combater este espírito negativo e mostrar a grandeza do clube, com muita superação. Nem sempre tivemos a sorte do nosso lado. Espero que a próxima época seja bastante diferente.
– FCPorto e Sporting foram muito superiores ao Benfica?
– Se olharmos apenas para os resultados, é a análise mais óbvia. Contudo, eu sei o que cada um entregou ao longo da última época dentro do balneário do Benfica. Todos lutámos e procurámos dar o nosso máximo. Mas lá está, os resultados não apareceram – e são eles que ditam o futebol de hoje.
– De perfeito desconhecido passou a um dos atletas mais apreciados pelos adeptos. Sente que convenceu quem duvidava do seu valor?
– Sabia que só com trabalho é que poderia mudar o olhar das pessoas relativamente a mim. Felizmente, surgiu a oportunidade e, graças a Deus, soube aproveitá-la. Só tinha um contrato de seis meses para mostrar o que valia ou voltava ao Brasil. Eu vivo do último jogo. É isso que vale: o presente.
– Já formou dupla com Luisão, Katsouranis e Edcarlos. Tem alguma preferência em termos de parceiro no eixo da defesa?
– É indiferente para mim, mas ao mesmo tempo não é. Isto porque todos são jogadores com talento. No entanto, identifico-me mais com uns do que com outros. São grandes centrais, e só tenho que estar grato a Deus por poder trabalhar ao lado de jogadores assim.
– Katsouranis rende mais como central ou como médio defensivo?
– O ‘Katso’ é muito inteligente. Esta é a principal qualidade dele. Ele sabe tanto jogar como central como médio defensico, ou até como médio ofensivo. Ele sabe sempre o que tem de fazer dentro de campo e a forma como se adapta é uma enorme qualidade.
– Vai conhecer o quarto treinador em quase ano e meio na Luz. O que espera de Quique Flores?
– Sei que é um treinador ambicioso, muito dedicado no seu trabalho e que vai trazer novas ideias para o Benfica. Da minha parte, vou dedicar-me ao máximo, hoje na recuperação e depois em campo, para ser opção e ajudar o Benfica da melhor maneira. Com o pensamento e fome de vencer que o mister Quique tem, estou certo de que o Benfica voltará às conquistas.
– E o que guarda de Fernando Santos, José Antonio Camacho e Fernando Chalana?
– São todos grandes treinadores. Eles são responsáveis pelo facto de ainda hoje estar no Benfica. Passaram-me aquilo que considero mais importante, que é a vivência e experiência que tiveram no futebol. Só tenho boas coisas a dizer de todos eles, pois os três ajudaram-me e aconselharam-me sempre com muito carinho.
– A transição de Rui Costa para o cargo de director desportivo foi uma aposta certa do Benfica?
– Antes de mais, foi uma honra para mim ter jogado ao lado de um verdadeiro mito do futebol português e mundial. Desde o meu primeiro dia no Benfica que ele me ajudou e procurou passar-me parte da vivência dele no futebol. O Rui é um homem de grande carácter e que gosta de andar na verdade. Fico muito feliz pela passagem dele para o cargo de director desportivo pois vai aproximar ainda mais a equipa e a direcção. Ele sabe lidar com o balneário. Ainda há algumas semanas estava lá a treinar connosco. É mesmo uma grande opção.
– O que mais deseja para a próxima temporada em termos pessoais?
– Sempre oro a Deus para que Ele me dê saúde e sabedoria. Porque o resto, o trabalho, é a minha parte, e eu vou correr atrás disso diariamente.
– Em que ponto está a sua recuperação após a operação ao pé [fracturou o quinto metatarso do pé direito e foi operado duas vezes]?
– Sou um ‘cara’ muito tranquilo. Sei que esta lesão vai ajudar-me a crescer e a amadurecer. Estou tranquilo e a recuperar da melhor forma. Estou a cumprir com o plano que traçaram para recuperar mais rapidamente e voltar ainda mais forte.
– Mas já tem definida alguma data para o seu regresso em pleno aos relvados?
– Se pudesse, começava a jogar já hoje! Mas também sei que não posso correr o risco de me precipitar e voltar sem estar a 100 por cento. Mas Deus dá-me tranquilidadeparaencarar esta provação.
– O principal objectivo é voltar semlimitações no arranque da pré-época?
– Quero voltar quando os médicos disserem que estou pronto a começar a treinar. Da minha parte, vou fazer tudo para acelerar a minha recuperação.
'NÃO HÁ DÚVIDAS: RONALDO É O MELHOR'–
Que opinião tem de Cristiano Ronaldo? É o melhor do Mundo neste momento?– Infelizmente, nunca joguei contra ele, apesar de o Benfica ter cruzado o caminho do Man. United em várias ocasiões. Para mim não há dúvidas: Ronaldo é o melhor do Mundo e vai mesmo ser eleito neste ano.
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Que pode Portugal fazer no Euro’2008?– Creio que a Selecção tem excelentes jogadores. Não só os meus companheiros no Benfica, Quim, Petit e Nuno Gomes, mas também elementos do FCPorto e do Sporting. É uma equipa de qualidade, treinada por um técnico que admiro. Gosto muito da personalidade de Scolari. Vou ficar a torcer para que o torneio corra da melhor forma.
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Um dos grandes objectivos que tinha era ir aos Jogos Olímpicos. Sem poder contribuir, o que espera do Brasil em Pequim?– Temos uma selecção recheada de talento e estou certo de que neste ano vamos vencer o único troféu de selecções que nos falta. É verdade que não vou concretizar este sonho mas sei que Deus tem coisas ainda maiores para mim. Ele sabe o caminho. Já fico feliz por se lembrarem de mim e estar na pré-convocatória, mesmo estando lesionado.
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E quanto à selecção principal do Brasil?– Já treinei sob as ordens de Dunga. Fiquei muito feliz porqueeleelogiou-me muito e fui muito bem recebido. Espero ter a minha oportunidade e saberei aproveitá-la quando ela surgir.
PERFILDavid Luiz Moreira Marinho nasceu há 21 anos (22/04/1987) em Diadema, São Paulo. Chegou ao Benfica em Janeiro de 2007 vindo do Vitória da Bahia (Série C), por empréstimo de seis meses. Convenceu os dirigentes a comprarem o seu passe e em Dezembro último renovou até 2013, com uma cláusula de rescisão de 50 milhões de euros.
Correio Sport-Correio da Manhã 31 de Maio 08