A ESTREIA EM PARIS, o céu e o inferno em 90 minutos
E O CONTRATO DE CINCO ANOS
DAVID LUIZ«Realizei o meu sonho»
TERESÓPOLIS — David Luiz não quer parar. Quer viver cada momento da carreira como se fosse o último e corre por gosto. Não pensa nas férias, só quer ganhar. Pelo Brasil, agora, no Mundial do Canadá, e com a camisola da águia, logo a seguir, numa época em que se apresenta na Luz como, agora sim, jogador do Benfica. De corpo inteiro. Sem empréstimos ou experiências de seis meses.
Da estreia, em Paris, numa noite azarada para Luisão, ao novo contrato rubricado com os encarnados, desta feita válido por cinco temporadas. David Luiz na primeira pessoa, em entrevista a A BOLA, numa pausa dos trabalhos da selecção do Brasil de sub-20. O que falhou esta época, os objectivos a perseguir num futuro imediato e a certeza de que os sonhos concretizam-se com trabalho. Muito trabalho.
— Da Série C para a Europa, com estreia em jogo da Taça UEFA. Não foi tudo muito rápido?— É verdade. Mas eu tinha essa consciência. Neste meio, neste mundo do futebol, sabemos que as coisas podem mudar de um dia para o outro. Felizmente consegui mostrar o meu valor, logo à primeira, no Benfica. Tinha noção de que as realidades são diferentes mas a época no Vitória estava a correr-me muito bem e apresentei-me em Lisboa confiante, preocupado apenas em mostrar o meu futebol. Com tranquilidade mas consciente da responsabilidade. Tinha seis meses para garantir um lugar e, felizmente, isso foi possível, agarrei a oportunidade.
— Oportunidade que surgiu apenas com a lesão de Luisão, em Paris, em jogo da Taça UEFA, com o Paris Saint-Germain...— Deus sabe os momentos de cada um. Tinha apenas seis meses para mostrar o meu valor e ficava um pouco ansioso, nos primeiros tempos, porque queria uma oportunidade logo. Aconteceu numa noite esperada e, em simultâneo, inesperada. O Luisão estava lesionado, tinha falhado o jogo anterior e eu sempre acreditei que podia jogar. Fiquei triste pela lesão do meu companheiro e feliz por mais uma oportunidade de ouro na minha vida. Quando entrei em campo com a camisola do Benfica, num jogo da Taça UEFA, foi a realização de um sonho. Hoje, graças a Deus, estou a viver um momento muito especial na minha vida e especial na minha profissão.
Sempre com o estádio cheio
— Seis meses foram suficientes para convencer o Benfica da necessidade de adquirir o seu passe. Chegou a recear que tal não se concretizasse?
— É verdade. Sabia que tudo se decidia em seis meses e, no final desse período, ver o clube interessado na aquisição do meu passe é muito gratificante. O Benfica ofereceu-me um bom contrato, por cinco épocas, o que proporciona uma garantia de futuro e a estabilidade e tranquilidade indispensáveis para podermos desenvolver bem o nosso trabalho. O importante, agora, é continuar a crescer, a cada dia. Quero evoluir e aperfeiçoar cada vez mais o meu futebol.
— Como traduz as experiências no Benfica?— Tinha noção da grandeza do Benfica mas só quem veste aquela camisola, quem joga no Estádio da Luz, pode perceber, verdadeiramente, o que o Benfica representa. Converso muito com os meus amigos e digo-lhes que o Benfica tem sempre mais adeptos em todos os estádios. Joga em Paris e tem mais gente nas bancadas, vai a Nova Iorque e são quase 50 mil benfiquistas a apoiar-nos... É muito gratificante e, nesse aspecto, reconheço que fiquei bastante surpreendido. Estou muito feliz no Benfica, é no Benfica que quero jogar e tenho esse prazer.
* Com Jaime Luís (correspondente de A BOLA no Brasil)
A MÁGOA DE NADA TER AINDA CONQUISTADO NA LUZ«Podíamos ter feito melhor»TERESÓPOLIS — Seis meses, nenhum título. David Luiz assume que, colectivamente, a equipa falhou em momentos cruciais e deixou fugir o campeonato e, quem sabe, uma presença na final da Taça UEFA. Mas não deixa de projectar o futuro com ambição e garante que «jamais» será «um jogador acomodado».
Em nome da selecção do Brasil de sub-20, David Luiz prepara-se para perder o arranque dos trabalhos na Luz e admite que, na nova época, será ainda mais forte a concorrência por um lugar no onze.
— O que falhou esta época em termos colectivos? Têm consciência de que podiam ter feito melhor?
— Claro que sim. Temos essa consciência, é claro. Podíamos ter conseguido o título nacional, chegado mais longe na Taça UEFA e na Taça de Portugal. Até hoje não encontramos uma explicação para aquele jogo com o Espanhol, para a Taça UEFA, com a bola a bater nas costas do guarda-redes e a não entrar, três bolas nos ferros... Foi a vontade de Deus. Temos de colocar a cabeça no lugar e trabalhar bastante para que, na próxima época, a equipa tenha condições de conquistar todas as provas em que está envolvida. Mas, repito, temos perfeita consciência de que podíamos ter feito melhor.
— O que os sócios do Benfica podem ainda esperar de David Luiz?
— Podem ter a certeza de que sou um garoto com a cabeça no lugar e, a cada dia, vou dar o máximo para evoluir, para crescer como jogador. Jamais vão ver um jogador acomodado. As pessoas até podem pensar isso: agora que conseguiu o que queria, o contrato definitivo com o Benfica, vai acomodar-se. Nada mais errado. Vou trabalhar mais ainda. Sou jovem, tenho muito a aprender e é isso que vou mostrar na próxima época.
«Não posso reclamar de férias»
— A presença no Canadá, para o Mundial sub-20, vai cortar-lhe o período de férias. Isso pode ser prejudicial, uma vez que Luisão, já recuperado de lesão, e Anderson iniciam os trabalhos e, aparentemente, partem por isso em vantagem?
— Sou jovem, tenho 20 anos, não posso reclamar de férias. Depois de terminar a carreira vou ter muito tempo para gozar férias. Esta é uma oportunidade de ouro, poder representar o meu país numa competição tão importante como um Mundial. Não vou reclamar de férias. Estou a trabalhar muito e vou apresentar-me no Benfica pronto para jogar.
— A concorrência por um lugar no eixo do sector defensivo vai aumentar. Tem essa noção?
— Essa é uma decisão para o mister. Vou procurar o meu espaço, sem atropelar ninguém, dando o máximo em cada treino.
A CURIOSIDADE DOS POTENCIAIS REFORÇOS«O Benfica é ainda maior»TERESÓPOLIS — Cássio (Grémio de Porto Alegre), Willian e Eduardo Ratinho (Corinthians), três potenciais reforços do Benfica, três futebolistas integrados nos trabalhos da selecção brasileira sub-20, três jovens desejosos de reunir o máximo de informação possível sobre o Benfica e a capital portuguesa. David Luiz tem satisfeito a curiosidade dos companheiros. «São jogadores muito importantes para os seus clubes e estão na selecção, o que desde logo confirma o seu valor. Perguntam-me o que representa o Benfica e digo-lhes que o Benfica é ainda maior. É tudo o que eles pensam e mais um pouco. Só quem tem o privilégio de representar o Benfica percebe a incomparável grandeza do clube. Se as transferências forem concretizadas tenho a certeza de que vão ser grandes valores no Benfica.»
TREINO COM SELECÇÃO PRINCIPAL FOI PRÉMIO«Tenho os pés assentes no chão»TERESÓPOLIS — O escrete de Dunga já deixou o centro de treinos da CBF, na Granja Comary, em Teresópolis, agora sim com o grupo de trabalho completo, depois da polémica da primeira semana de trabalhos em torno de Robinho e do Real Madrid, novel campeão espanhol.
No decorrer dos trabalhos Dunga recorreu, pontualmente, ao concurso de um jogador da equipa de sub-20, que vai permanecer na Granja Comary até dia domingo, prosseguindo a preparação para o Mundial da categoria, a disputar no Canadá entre 30 de Junho e 22 de Julho. A escolha recaiu em David Luiz, o jovem defesa-central do Benfica. «Faltava um jogador e indicámos logo o David Luiz. Ele está preparado, chega e não fica a dever a ninguém», explicou Gildo Rodrigues, supervisor técnico dos sub-20, a A BOLA, justificando o critério de selecção.
— E o que pensa David Luiz desta primeira oportunidade de trabalhar com a selecção principal?— Tratou-se de mais uma oportunidade grande na minha vida e fiquei muito feliz. É um privilégio integrar os trabalhos da selecção. É um começo, também. Quem sabe dentro de algum tempo não posso fazer parte desse grupo? Para isso sei que tenho de continuar a trabalhar no Benfica, manter os pés bem assentes no chão e fazer o meu trabalho direitinho nos sub-20.
